Em 2077, pouco antes do mundo ir oficialmente pro saco, Nate se arruma pra um discurso enquanto Nora tenta manter o filho, Shaun, vivo sem colar ele no teto. As bombas caem, todo mundo entra em pânico, e o casal corre pro Refúgio 111 — um experimento criogênico disfarçado de salvação. Durante o congelamento, Shaun é sequestrado e o cônjuge assassinado por um sujeito genérico de jaqueta. Após uma falha no sistema, o protagonista acorda, encontra todo mundo congelado e morto, e sai pra caminhar por uma Massachusetts pós-apocalíptica que fede a ferrugem e saudade de quando o Santuário era só suburbano e entediante. Começa aí a saga do “Único Sobrevivente”.

“War... War never changes.” - Sole Survivor

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“To The World That Was. Mankind Shall Never See Its Like Again.” - Richard Bradford

Pra um jogo de 2015, os gráficos se sustentam bem — não fazem milagre, mas entregam o que prometeram. Fallout sempre teve esse charme retrô-apocalíptico, e aqui ele continua funcionando: prédios caindo aos pedaços, carros flutuantes de design ridículo e robôs mordomos que parecem ter saído de um manual dos anos 50 sobre "o futuro". É cafona, sim, mas é intencional. E funciona. A ambientação sonora é outro acerto — as músicas enchem os cenários de vida (ou do que sobrou dela), e os sons ambientais deixam tudo menos morto. Um bônus que dá gosto: o Codsworth falando o nome do personagem. Pode parecer detalhe, mas mostra que alguém aí se deu ao trabalho de personalizar, mesmo que dentro de uma planilha de nomes pré-gravados.

Fallout 4 acontece 10 anos depois de Fallout 3 e 6 após New Vegas, agora na Commonwealth de Massachusetts. Além dos clássicos problemas com radiação, saqueadores e aberrações mutantes, o caos é agravado por uma presença quase mitológica: o Instituto. Ninguém viu, mas todo mundo tem certeza de que existe — e, segundo as fofocas radioativas, eles andam fabricando sintéticos e trocando gente real por cópias sem alma. A qualquer momento, teu vizinho pode ser um robô — ou pior, tua esposa.

Ao contrário de Skyrim, onde as campanhas parecem reuniões de condomínio que não se falam, aqui tudo se entrelaça. São quatro linhas principais (+3 dos DLCs), cada uma com peso real nas decisões e nos finais possíveis. É raro ver uma campanha empurrar a outra sem parecer bagunça — aqui, isso acontece com propósito.

• Minutemen: Milícia de bairro tentando parecer Exército. Estão decadentes, mas ainda querem ajudar a Comunidade. O protagonista entra como um salvador relutante enquanto usa os Minutemen como escada pra achar o filho.
  
• Ferrovia: Grupo underground que trata sintéticos como refugiados. Apagam memórias, reprogramam identidades, e fingem que está tudo certo. Ligados ao Instituto, são úteis — e moralmente cinzentos.
  
• Irmandade do Aço: Basicamente militares com TOC tecnológico. Vêm pra limpar tudo: Instituto, Ferrovia e qualquer um que não obedeça. A diplomacia deles é feita na base do laser.
  
• O Instituto: O chefão da paranoia. Querem salvar a humanidade... substituindo os humanos. O “Pai” entrega a cereja do bolo: destruir os outros ou compactuar com um plano de eugenia com cara de progresso..
  
• Nuka-World, Far Harbor e Automatron: Em Nuka-World, você vira chefe de invasores num parque temático de sociopatas. Em Far Harbor, lida com fanáticos nucleares e dilemas éticos que ninguém pediu. Já em Automatron, enfrenta um Mecânico surtado e seus brinquedos assassinos.

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“It was just me against the world...and the world had it coming.” - Conrad Kellogg

Fallout sempre vendeu bem o papo das escolhas — mas aqui, o sistema de diálogo escorrega bonito. Nos jogos anteriores, era possível ser cruel, sádico, irônico ou só um monstro funcional. Em Fallout 4, você tem quatro variações de bonzinho: sarcástico, burro, impaciente ou só prestativo. A personalidade virou um teatrinho educado.

Passando esse detalhe, o jogo ainda entrega bem no que interessa: liberdade. Desde os primeiros minutos fora do Refúgio, o mapa está aberto e o jogador pode seguir para onde quiser, quando quiser. Campanhas podem ser iniciadas, ignoradas ou sabotadas em qualquer ordem, e as facções se entrelaçam com conflitos reais — quase todas podem ser destruídas ou manipuladas dependendo das decisões tomadas. Irmandade e Ferrovia se odeiam com gosto, o Instituto quer controlar tudo, e o jogador tem a liberdade de apoiar, trair ou explodir qualquer facção.

O mundo aberto é denso e bem construído, com áreas variadas, cheias de histórias ambientais, combates, surpresas e eventos aleatórios que surgem quando menos se espera. Nada de mundo morto esperando cutscene: cada esquina pode ter um robô assassino, uma missão emergente ou só uma casa cheia de esqueletos que contam sua própria tragédia. E conforme você evolui, o jogo responde — mais inimigos, encontros novos, desafios que escalam com o nível.

Fallout 4 trouxe uma novidade que virou obsessão pra muita gente: os Assentamentos. Em vez de só vagar por um mundo arruinado, agora dá pra bancar o síndico do apocalipse. Em certos pontos do mapa, é possível montar bases, recrutar civis, plantar comida, erguer torretas, montar ringues de luta e até aprisionar criaturas. O sistema de construção é flexível, e o crafting usa toda a quinquilharia coletada pelo caminho. Se quiser esquecer a campanha principal e virar arquiteto radioativo, o jogo te dá essa liberdade. E sim, parte das horas jogadas acabam virando só isso.

Os companheiros têm sistema de afinidade — o que até parece banal, mas aqui funciona bem. Cada atitude sua é observada: Cait, viciada em drogas, adora quando o jogador se entope de substâncias e detesta quando ele resolve ser útil pra alguém. Já Curie faz cara feia pra qualquer ação questionável e te abraça quando você ajuda um órfão. Esse sistema afeta o relacionamento, libera perks únicos, e até romances, se o nível positivo for alto o suficiente. Do lado oposto, se a relação azedar, eles podem simplesmente recusar te seguir. Sem DR, só abandono mesmo.

Cada companheiro também tem uma missão que após atingir um certo nível de afinidade vão te pedir para ajudá-los com algo antes de prosseguir, dessa forma você se aprofunda mais na história desse personagem.

As armas e armaduras possuem uma grande variedade de modificações que te deixam personaliza-las da forma que quiser tornando o jogo mais dinâmico. E os hits críticos não mais aleatórios e sim vão acumulando e você decide quando usá-los.

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Fallout 4 tem defeitos, e nem tenta esconder. O sistema de escolhas ficou mais superficial, alguns diálogos beiram a redundância, e a IA dos companheiros às vezes parece precisar de reboot. Mas nada disso pesa o suficiente pra ofuscar o que o jogo entrega. A variedade de caminhos, o mundo aberto pulsante, os companheiros bem escritos (quando não estão presos em parede), e os DLCs que realmente acrescentam — tudo isso mantém o jogo vivo mesmo depois de várias zeradas. É aquele tipo de jogo que você reclama enquanto joga... mas joga de novo mesmo assim. E quando se dá conta, já virou favorito.

“Followed by... yes, followed by flashes; blinding flashes, sounds of explosions... We're- we're trying to get confirmation, but we seem to have lost contact with our affiliate stations... We do have coming in... confirmed reports- I repeat, confirmed reports of nuclear detonations in... New York and Pennsylvania... My God.” - The News Anchor on October 23, 2077