Cruelty Squad não é um entretenimento para qualquer um, o artista usou como forma de fazer um ateliê das artes dele e o resultado foi um dos first person shooters mais inovadores dos últimos 10 anos da era sombria e monótona que vivemos.

A paródia que o jogo representa da sociedade não é mais do que a realidade em tons pastéis, como se eu tirasse uma foto de brasília e fizesse um desenho usando sobreposição com cores fortes no gimp ou similares.

Os elementos biopunk podem ser o que o jogo tem de menos realístico, já que nele os personagem vivem num ciclo similar ao Saṃsāra de imortalidade porém eles sempre voltam pra mesma biomassa de onde saíram. Não é exatamente explicado como mas quando você morre ou é destruído seu DNA e corpo pode ser completamente reconstruído, só em alguns casos não é garantido que você volte como um humanoide (o protagonista sempre volta) mas alguns inimigos voltam em forma de lesmas gigantes que cospem ácido ou se a pessoa abusava de esteroides pode voltar como um castelo de carne.

O jogo apresenta uma realidade em que a vida não tem nenhum valor, as pessoas entram num estado de completa apatia e niilismo por conta disso. Não deixa de soar como um comentário sobre as religiões modernas também, principalmente com os simbolismos gnósticos ao longo do jogo. Apesar da interpretação mais óbvia ser "capitalismo bad".

Este jogo é excelente para pessoas que superaram a fase do sentimento distópico em relação à indústria pós-modernista de software para entretenimento pessoal, que não mais tem como público-alvo o mesmo de décadas atrás, e aprenderam a abraçar o estado mental de que quanto mais estímulos audiovisuais houverem, mais gatilhos de dopamina serão ativados em seu organismo, gerando reações em cadeia similares aos efeitos do zumbido da nicotina ou ao ato de perder a virgindade.