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Posted: 26 Sep, 2021 @ 7:48pm
Updated: 26 Sep, 2021 @ 7:58pm

Um clássico do horror obrigatório para fãs do gênero.

Desenvolvido pela Sierra On-Line e escrito por uma de suas fundadoras, Phantasmagoria foi lançado originalmente em 1995 e ganhou notoriedade por apresentar cenas pesadíssimas representadas por atores reais, tornando-se um verdadeiro ícone dos jogos proibidos e um grande sucesso. Para se ter uma ideia do impacto exercido por sua violência, a CompUSA, na época a maior varejista high-tech dos Estados Unidos, decidiu não comercializá-lo. Fora isso, o jogo também foi banido em vários países, incluindo a Austrália, famosa por suas restrições em jogos.

No jogo acompanhamos Adrienne Delaney, uma escritora que acabara de se mudar para uma recém adquirida mansão com seu marido Don, um renomado fotógrafo de revista. Ao explorar o local que exala uma aura completamente misteriosa e sinistra, Adrienne lentamente percebe que algo não está certo com seu novo lar e começa a investigar a origem do local, até que descobre que seu antigo dono estava envolvido com as artes das trevas e finalmente se vê dentro de um verdadeiro pesadelo.

A história está longe de ser algo revolucionário ou especial, na verdade, ela é cafona e clichê mesmo para os padrões da época. Há uma inspiração tão forte em The Shining, de Stephen King, que chega a ser criminoso não mencioná-lo. Agora, o que torna o enredo especial é o fato do jogo ser um FMV consciente, utilizar atores reais foi só a cereja do bolo, além do próprio roteiro ser escrito com o cuidado de um longa-metragem, também houve a preocupação em concebê-lo como algo no qual capitar a atenção do jogador e deixá-lo apreensivo era um dos principais objetivos. Neste ponto, note que o meu uso da palavra "lentamente" para descrever a jornada da protagonista não foi em vão, o jogo se preocupa muito em construir um clima adequado sem perder o controle, especialmente durante seus primeiros capítulos.

Por falar em capítulos, são sete no total. Alguns bem rápidos, outros nem tanto. O que todos eles compartilham são cenários ricos em interatividade, assim como a maioria dos grandes FMVs da época eram, e uma atmosfera extremamente imersiva. Confesso que ainda hoje, já bastante calejado de todo tipo de obras de horror possíveis, sejam elas filmes, séries ou jogos, consegui sentir certa tensão ao adentrar alguns dos corredores apavorantes que servem de palco para a história e me sentir envolto no clima, mesmo com a baixa resolução dos elementos 3D ou o áudio distorcido.

Phantasmagoria age como filme não só no desenrolar de sua narrativa, alguns de seus personagens, por exemplo, são apresentados de maneira tão caricata que fica evidente como foram inseridos para servir exclusivamente de alívio cômico, e o pior é que funciona até melhor do que se imagina, já que o espectador presencia algumas situações tão verdadeiramente chocantes e repugnantes que certo respaldo com base no humor acaba caindo bem.

Em termos de jogabilidade, ele não é diferente da grande maioria dos clássicos point-and-click de aventura, seu mouse será praticamente seu único companheiro durante a jogatina, você o utilizará para interagir com os cenários e objetos, inspecionar itens no seu inventário, caminhar, enfim, tudo na ponta do clique, simples assim. Em minha vida como jogador não experimentei tantos point-and-click quanto gostaria, mas joguei vários e garanto que este aqui é um dos que possuem uma das jogabilidades mais simples de todos, o que não é necessariamente um ponto negativo.

Os quebra-cabeças também não são nada complicados, a maioria deles sequer requer que você se atente a detalhes profundos ou coisas assim, alguns são tão estupidamente fáceis que sua solução fica literalmente na cena anterior, chega a ser um pouco frustrante. Tudo isso me leva ao seu maior, talvez único problema gritante além do fato de obviamente ser datado, sua composição final. Não é exagero algum quando digo que todo o seu último capítulo foi muito, muito mal planejado. Sem adentrar o campo dos spoilers, durante todos os outros capítulos há uma sensação de livre-arbítrio muito grande, você pode fazer o que quiser até que no trecho final o jogo se perde neste próprio aspecto do design e por vezes acaba te jogando em trechos que você não poderia estar sem possuir certo item, caso contrário é game over. Isso mostra que na época não havia tanta preocupação com o game design e cercas coisas eram completamente esquecidas mesmo no lançamento final, felizmente vivemos numa era de atualizações e hoje isso provavelmente não aconteceria.

Conclusão: Apesar do enredo cafona e das atuações de baixa qualidade que hoje são facilmente superáveis por canais de esquetes humorísticas de baixo orçamento no YouTube, Phantasmagoria consegue entregar uma experiência apreensiva, angustiante e por vezes até cômica, sentimentos mistos que cercam este que se tornou um verdadeiro clássico do horror em FMV.

A maioria das pessoas que ousam jogá-lo hoje em dia utiliza da nostalgia como pretexto, mas sendo bem transparente, toda a truculência que este jogo carrega em seu legado é algo que considero necessário para todos que se interessam pelo gênero. O título deste texto não poderia outro, assim como todos que apreciam um bom filme de terror precisam assistir clássicos como Alien, o Oitavo Passageiro (1979) ou O Exorcista (1973), quem aprecia um bom jogo de horror também precisa jogar Phantasmagoria e entender o porquê causou tanta polêmica na época e como ele se tornou um clássico.

Críticas e sugestões são sempre bem-vindas, só peço que, por favor, seja educado(a) nos comentários e não poste spoilers sem usar a tag spoiler.
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5 Comments
BlackThug 22 Dec, 2021 @ 2:39pm 
Valeu pela review :cupup:
Outlander 27 Sep, 2021 @ 2:54am 
@Corvo, sim. Joguei o Gabriel Knight tbm mas nunca zerei. Achei o CD do meu irmão e tentei jogar na adolescência, mas não completei. Me arrependo até hoje de ter perdido o Bundle da Sierra no Humble Bundle. Quero muito jogar e finalizar esse A Beast Within numa oportunidade próxima. GG
LaeneN 26 Sep, 2021 @ 8:18pm 
:luv:
Orotimmaro do Dragon Ball 26 Sep, 2021 @ 8:13pm 
Obrigado pelo comentário, Vitão! Esse é incrível mesmo, muito marcante. Ensaiei de jogá-lo por anos, posterguei até onde não pude mais, vi em promoção, corri e joguei de uma vez só pra garantir, haha. No começo do ano tentei voltar aos jogos point-and-click que curtia tanto quando era moleque e não tive sucesso, mas acho que agora vai, tô me preparando pra jogar Gabriel Knight em breve, não sei se já ouviu falar, mas dizem que também é excelente.
Outlander 26 Sep, 2021 @ 8:08pm 
Muito bacana a análise, cara. :blryes:
Eu lembro bem deste jogo quando eu tinha uns 5 ou 6 anos lá na década de 90.. eu queria ver meu irmão mais velho jogando mas, pelas cenas horrendas, não deixavam. E algumas imagens que consegui acompanhar ficaram cravadas na memória até hoje! xD Lembro de ter assistido ele zerar... e, quando chegou por aqui pela Steam, ele assistiu eu zerando hehe top.