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Posted: 3 Oct, 2021 @ 8:08pm
Updated: 3 Oct, 2021 @ 8:08pm

"You always were a kidder, Steve."

Você acorda em um quarto completamente sem memória, vai até a sala e dá de cara com um pirralho sabichão que mentiu sobre estar doente só para faltar na escola. – Tudo bem, eu acho. Qualquer criança já aprontou essa ou pelo menos arquitetou um migué parecido para cima dos pais só para escapar de alguma enrascada, um dia de provas, por exemplo. – Depois de conversar com o fedelho e não chegar a lugar algum, você vai até a cozinha e encontra uma mulher fazendo o trabalho de dona de casa, ela diz ser sua mãe, mas não acredita em você quando diz que perdeu a memória e sequer sabe seu nome, "Você sempre foi um brincalhão, Steve.", diz a moça. A conversa desenrola e as opções de diálogo acabam até que você perde a paciência e solta um palavrão, "F*ck", e a mulher responde em tonalidade sarcástica "Isso não é coisa que se diz para sua mãe. É algum tipo de convite agora que seu pai está fora de ação?" e completa "Talvez depois, querido". Essa, meus amigos, é a descrição dos 10 primeiros minutos de Harvester, o que para muitos se classifica facilmente como o jogo mais bizarro já lançado.

Na verdade, bizarro não o define muito bem, sim, ele é esquisito, excêntrico e extravagante, todos sinônimos de bizarro, mas na falta de uma palavra mais adequada, eu diria que ele se encaixa melhor no termo insano, porque este é o único videogame em que você pode contrair uma DST e morrer disso – e você provavelmente vai, acredite. – Harvester é o videojogo mais insano que eu já joguei, por favor não pense por um segundo sequer que te dar a liberdade de propor sexo à sua própria mãe e ainda flertar com isso será a coisa mais chocante que você verá ao perambular pela cidade de Harvest, o nível dos absurdos que vi neste jogo é tão sinistro que é difícil acreditar como ele ainda é vendido nesta plataforma, chegando ao ponto em que bastaria descrever algumas dessas coisas e eu provavelmente seria banido permanentemente da comunidade.

O objetivo de Steve, digo, além de obviamente descobrir quem é e como perdeu sua memória, é entrar no Lodge, um grande edifício localizado no centro da cidade de Harvest que serve como sede da Order of the Harvest Moon, uma organização secreta extremamente influente na cidade. Para isso, você precisará cumprir uma série de tarefas ao longo de seis dias, coisas que vão desde vandalizar o carro de um morador até chantagem, roubo, incêndios, violação de sepultura e outras travessuras.

A jogabilidade é clássica de todo o gênero Point and Click de aventura com o único diferencial de um combate tenebroso que é necessário nos momentos finais da jogatina. Sem alongar muito o texto, a única outra coisa que você precisa saber antes de jogá-lo é que infelizmente ele sofre com problemas graves no que diz respeito a liberdade, coisa que também é clássica desse tipo de jogo. Assim como em Phantasmagoria, porém em escala bem maior, há pouco (ou nenhum) senso de direção, você provavelmente acabará se sentindo perdido durante várias partes da jogatina, então vem a frustração seguida do desejo de abandoná-lo. Pode parecer um pouco exagerado quando digo isso, mas saiba que o fator pixel hunt deste jogo algumas vezes consegue ser pior que o de The Beast Within: A Gabriel Knight Mystery, jogo que apresenta o quebra-cabeça mais sacana que já resolvi na vida. Confesso que passei horas torturantes nele e só obtive progresso quando esfriei a cabeça e decidi que era hora de ir ao Google. Infelizmente não tem como fugir disso sem recorrer a guias ou tutoriais, mas devo acrescentar que essa sua desordem no design por vezes acaba fazendo parte da experiência, o que me leva a acreditar que pode até ter sido intencional, ele realmente quer que você se dê mal – coisa que fica ainda mais perceptível na quantidade anormal de formas de se morrer no jogo.

Conclusão: Eu sei o que você está pensando – se o jogo é assim, por que alguém ousaria recomendá-lo? – e a resposta é simples, porque durante a nossa conversa com sua mãe, a mesma mencionada no início do texto, é apresentado uma cena em que sua irmãzinha bebê – cujo berço está logo ao lado da cozinha – devora uma tarântula. No cinema sempre foi comum coisas assim serem representadas e às vezes até glorificadas, assim nasceu um dos subgêneros mais populares e mais importantes do terror, o trash. Antes mesmo do meu nascimento, filmes como Evil Dead e Braindead já lotavam sessões noturnas, filmes que se tornaram verdadeiros clássicos e hoje servem de inspiração para inúmeras obras nas mais variadas mídias, e isso vai muito além, antes desses filmes tivemos livros que fizeram a mesma coisa! Agora, jogos digitais? Essa mídia relativamente recente que hoje infelizmente caminha perigosamente à beira do precipício da uniformidade, essa ousou pouquíssimas vezes ao longo de sua jornada. É aqui que a excentricidade de Harvester o torna algo recomendável, porque apesar de existirem vários bons exemplos de obras assim em outras mídias, videojogos como ele são muito, muito raros, e por mais nocivo que ele possa soar com toda sua parte repugnante (que vai desde a violência em seu estado mais puro até a representatividade do pior do ser humano com seus personagens racistas e sexistas, ou temas pesados como filicídio), a experiência final vale a pena quando você finalmente o finaliza e entende qual o seu real objetivo.

Críticas e sugestões são sempre bem-vindas, só peço que, por favor, seja educado(a) nos comentários e não poste spoilers sem usar a tag spoiler.
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1 Comments
BlackThug 4 Oct, 2021 @ 5:46am 
o jogo do SEXO