Olhe, desculpe, tem troco para 10 euros?

O assalto a Tancos foi para recuperar LEIRIA. Sim, é verdade. O assalto a Tancos em 2017 foi para recuperar LEIRIA. Mas para vocês compreenderem esta história precisámos de recuar 50 anos no tempo, vamos assim até aos inícios da década de 1970.

Estávamos em 1971 (e já no décimo ano da Guerra do Ultramar) e o governo de Marcello Caetano apercebe-se que está a entrar numa situação insustentável. Depois da chamada "Primavera Marcelista", o regime endurecesse-se e percebe que ou tem mais controlo sobre as oposições ou corre o sério risco de ser derrubado. Marcello Caetano decide, então, criar um departamento secreto sob a sua alçada — Direção-Geral de Projetos Experimentais (DPE).

A função da DGPE era criar um dispositivo que conseguisse espiar e recolher informações sobre qualquer individuo sem que este se apercebesse sequer. Mas não só, aquilo era um quase uma arma Deus ex Machina. Em fevereiro de 1972 é apresentado a Marcello Caetano o primeiro protótipo deste dispositivo, apelidado de LEIRIA, que é um acrónimo para Light and Enhanced Infrared Ranging Image Acquisition. Porquê da sigla ser em inglês? Se a maioria da população tinha a quarta classe, dificilmente perceberiam inglês, e dado o nacionalismo do governo, quem é que iria suspeitar que eles estivessem por detrás deste dispositivo de espionagem?

LEIRIA foi usado pela primeira vez na região do nordeste angolano com a fronteira da atual República Democrática do Congo, numa operação clandestina no outono de 1973. O exército obteve as posições exatas das forças inimigas e conseguiu neutralizá-las muito facilmente. LEIRIA foi tão eficaz que se se fabricassem mais dispositivos deste tipo, a Guerra poderia ser facilmente concluída no espaço de algumas semanas.

É claro que os serviços secretos dos EUA e da URSS começaram a suspeitar que Portugal tinha uma nova "super-arma", forçando o Estado-Maior das Forças Armadas e a DGPE a suspender a utilização do LEIRIA e criar uma cover-story para o LEIRIA. A baía imediatamente a sul do distrito de Coimbra e a noroeste do distrito de Santarém parecia a localização exata para inventar um distrito e dar-lhe o nome do LEIRIA, nascendo assim o "distrito de Leiria".