É uma pena que uma obra-prima como essa tenha uma história triste e controversa por trás. Porém, ignorando os problemas que infelizmente aconteceram com os desenvolvedores do jogo e a ZA/UM, Disco Elysium é facilmente um dos melhores jogos já feitos e provavelmente uma das melhores histórias já escritas!

O jogo te coloca na pele de um personagem que você não conhece, em um mundo completamente desconhecido e cercado de pessoas sobre as quais você não sabe nada. A magia do jogo está no fato de que o protagonista está na mesma situação que você, jogador, e isso torna a experiência de descobrir e "redescobrir" o mundo e as pessoas muito mais natural e divertida.

O jogo é praticamente uma visual novel; você consegue andar e interagir com objetos e pessoas, mas 99% do tempo você estará lendo e fazendo escolhas nos diálogos. Esse é, para mim, o ponto mais forte do jogo: os diálogos. Esse é um dos poucos jogos em que TODAS as conversas são interessantes. Até mesmo ao interagir com uma caixa de correios ou uma porta, você pode ser surpreendido (e provavelmente será) por uma conversa com diferentes partes da sua mente, sentimentos ou conceitos.

Disco Elysium tem um dos mundos mais vivos e complexos que já vi em um jogo. Cada personagem, local, livro, estátua, TUDO tem uma história para contar e te ajudar a entender mais sobre o passado de Revachol. Você vai encontrar todo tipo de pessoa, cada uma com diferentes ideologias e formas de interpretar o mundo, e todas elas têm sua parte na cidade.

Todo o restante do jogo funciona muito bem. As mecânicas de habilidades, dados e equipamentos são interessantes e, apesar de ainda manterem a base comum dos jogos do gênero, são diferentes o suficiente para ter um sentimento de novidade. É como o RPG comum que todos estamos acostumados, mas dessa vez ele chegou na festa usando um traje de gala e depois de ter lido alguns livros de psicanálise, e isso é ÓTIMO!

Por fim, Harry é o protagonista dessa história maluca, mas o tipo de Harry que você será depende das suas decisões e ações: se você quiser ser um fascista, você pode; se quiser ser um comunista, você também pode; se quiser ficar em cima do muro e/ou ser um moralista paia, você também pode. O mais importante, no final de tudo, é resolver o caso, afinal, você é um detetive e esse é o seu trabalho.

Perfeito! Esse jogo é MUITO mais do que ele parece ser.

Recomendo dar uma chance por mais que possa parecer chato ou entediante por causa do estilo de gameplay, pois ela na verdade complementa muito bem os pontos mais fortes do jogo que são a história, os personagens e a ambientação do mundo.

Se eu tivesse que apontar o ponto mais fraco do jogo, esse seria o combate, que parece um pouco forçado e não combina com todo o estilo de movimentação que foi criado pensando na parte de transporte do jogo, que inclusive, é sensacional. Todas as mecânicas relacionadas a movimentação, como as diferenças de terreno, o peso das cargas/equilíbrio e as animações de movimento funcionam PERFEITAMENTE enquanto você está só transportando as coisas de um lado pro outro, mas assim que você precisa fazer tudo isso junto do combate, fica um pouco chato e irresponsivo.

E mesmo que a jogabilidade não seja o seu estilo e nem o forte do jogo, você pode tranquilamente ser agarrado pela narrativa e querer ficar do mesmo jeito.

A história e os diálogos são tão intrigantes que, mesmo depois de horas jogando, o interesse só aumenta cada vez mais. E então chegam as ultimas duas horas de jogo onde as pontas soltas são amarradas, fechando a história do jogo porém ainda deixando aquela sensação de que tem mais coisa por vir, e vem mais mesmo em 2025. Mais de uma hora de cutscenes em sequência que, se fossem um filme, seria digno de oscar.

ISSO É ARTE!!