GuybrushMonkey97
Bruno Santos   Rio Grande do Sul, Brazil
 
 
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Eu não sei nem por onde começar a falar de Deadly Premonition. De sua premissa nem tão original assim? De sua gameplay travada? De suas mecânicas ambiciosas? De suas falhas? De seu port horrível para o PC? De sua reputação marcante? Ou talvez, de como ele se tornou um de meus jogos favoritos?

Um detetive do FBI chega em uma pequena cidade no noroeste americano, perto da fronteira do Canadá, para investigar a morte de uma adolescente aparentemente certinha e amada por todos. A morte afeta toda a cidade, e a investigação vai revelando não apenas detalhes sobre o assassino, mas também segredos obscuros que seus moradores estranhos não gostariam que fossem revelados. O que começa como um caso comum vai aos poucos demonstrando que forças sobrenaturais podem estar envolvidas. Além disso, o agente do FBI possui métodos incomuns, é viciado em café e parece ter visões relacionadas à investigação em seus sonhos, que envolvem quartos vermelhos e pessoas falando de forma estranha. Essa é a premissa da série Twin Peaks, de 1990, e também de Deadly Premonition. A inspiração aqui beira o plágio, com alguns personagens e lugares parecidos até demais. Mas, como Twin Peaks é a minha série favorita, também é o motivo de eu ter jogado esse jogo.

Por sorte, a história em si não é uma cópia exata da série, e eu diria que é o ponto mais alto de Deadly Premonition. Por mais que seu ponto de partida seja o mesmo, as duas histórias vão para caminhos e possuem mitologias bem diferentes. Os personagens que parecem terem vindo direto da série são poucos, e os originais daqui conseguem ser até mais estranhos e caricatos do que a série jamais foi. O destaque é com certeza o personagem principal, Francis York Morgan, que fica conversando com seu amigo imaginário Zach o jogo todo. A escrita aqui é bem boa, sendo no geral bem cômica e absurda mas conseguindo atingir momentos sérios quando o jogo precisa. O que interfere um pouco com a história, assim como todos os aspectos desse jogo, é sua execução. As músicas desse jogo são boas, mas frequentemente usadas nos momentos errados. Junto com alguns dos piores efeitos sonoros que eu já vi em um jogo, isso acaba gerando um humor não intencional que cria o charme único e estranho desse jogo.

Quanto à gameplay, o jogo possui duas partes principais. A primeira são as sessões de Survival Horror, similares a jogos como Resident Evil ou Silent Hill, onde o jogador luta com inimigos similares a zumbis ou espíritos. Aparentemente essas sessões foram adicionadas de última hora, o que faz bastante sentido considerando que são as partes mais fracas do jogo. Pode até ser um pouco tenso quando um inimigo aparece diretamente do seu lado, mas no geral essas sessões não geram nenhum medo ou tensão. Esse jogo também possui algumas das piores e mais engraçadas sequências de perseguição já feitas. Eu não considero essas sessões necessariamente terríveis, mas a forma que elas são usadas aqui podia ser melhor.

E então temos a melhor das duas partes, o sistema de mundo aberto. O jogador é livre para explorar a cidade inteira de Greenvale e apenas seguir a história principal quando quiser. Mecânicas habituais de jogos de mundo aberto estão aqui, como comprar itens em lojas, jogar minigames como pesca, dardos e corrida, e fazer side quests. As side quests desse jogo variam bastante em importância narrativa, mas são bem divertidas e recompensadoras, desenvolvendo melhor os personagens do jogo e entregando ao jogador itens extremamente úteis, como armas de munição infinita ou a habilidade de quick travel. É nessa parte do jogo que suas mecânicas mais ambiciosas e sua dedicação ao realismo aparecem. Por exemplo, todos os personagens seguem uma rota diária, e você consegue vê-los vivendo suas vidas em tempo real. Inclusive, o jogador até pode espionar pela janela da maioria das casas para ver o que os personagens estão fazendo lá dentro. Além disso, existem níveis de fome e cansaço e mecânicas de trocar e lavar roupa suja, se barbear (a barba de York cresce em tempo real) e abastecer seu carro. Mesmo que a mecânica de dirigir desse jogo seja meio quebrada, a forma que esses sistemas foram implementados aqui gera uma experiência bem interessante e única.

Agora finalmente falando da parte mais assustadora do jogo: seu port para o PC. O jogo é conhecido por ser quebrado em todas as plataformas, mas a versão de PC é especialmente quebrada. Primeiro de tudo, para rodar o jogo em resoluções altas (a maioria), é necessário baixar um mod. O jogo crasha frequentemente, e possui cutscenes específicas que congelam o jogo, e para continuar eu tive que rodar o jogo como admin, em janela e usar o modo de compatibilidade Windows XP pra passar. Além disso, os controles com mouse e teclado não são muito bons, e mesmo jogando com um controle os analógicos ficam invertidos e é necessário usar uma configuração da Comunidade Steam pra funcionar direito. Ah, e se você ficar passando rápido demais as locações no mapa do jogo ele eventualmente vai parar em Nárnia e o jogo crasha logo em seguida também. Esses aspectos introduzem a mecânica mais importante do jogo todo: os telefones de save. Não importa a situação, sempre que ver um telefone corra como se sua vida dependesse disso e salve o jogo para não perder seu progresso.

Deadly Premonition tem a reputação de ser um jogo "tão ruim que é bom", e eu não sei se eu consigo concordar 100% com essa afirmação. Eu não quero dizer com isso que ele seja um jogo excelente ou subestimado, longe disso, partes dele se encaixam perfeitamente nessa descrição. Porém isso não representa o jogo como um todo: ele também possui partes ótimas e elementos bem ambiciosos. Mas a verdade é que o que faz Deadly Premonition ser tão especial são os dois: o bom e o ruim. Não existe nenhum jogo como esse, e talvez nunca vá existir. Ele é de longe uma das melhores experiências que eu já tive jogando qualquer jogo e, mesmo sabendo que talvez seja um jogo que não agrade todos, é uma experiência que eu recomendaria de coração a todos que se interessaram ou ficaram curiosos. Minha única ressalva é o port do PC, que mesmo que adicione à aura de elementos quebrados do jogo também atrapalha e frustra bastante. No meu caso, eu acabei considerando que o bom superou o ruim e eu consegui me divertir mesmo assim. Mas, para os que decidirem dar uma chance apesar desses problemas, a experiência pode ser bem recompensadora.

Não é mesmo, Zach?
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Comments
Walter*-*-* 14 Oct, 2020 @ 9:00am 
Bruh